terça-feira, 10 de maio de 2011

Educação financeira ganha novo impulso

"A jovem que não parava de consumir". A peça cujo cenário é uma loja ilustra a consciência de uma adolescente que aprendeu a importância de poupar. A apresentação foi iniciativa dos alunos do Colégio Estadual João de Abreu Júnior, no município de Cantagalo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, que participaram do projeto do Banco Mundial que levou a educação financeira a 450 escolas de seis Estados do país.

O professor Douglas Rosa de Souza tão logo recebeu os kits de orientação teve que compartilhá-los com professores curiosos, que também queriam ser incluídos no programa de educação financeira. Por enquanto, só os estudantes do Ensino Médio de algumas escolas públicas de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Tocantins, Minas Gerais e Distrito Federal tiveram direito. E os alunos de Souza aprenderam rapidamente. Tanto que até os pais procuraram a escolar, curiosos do que estava levando seus filhos a mudarem de comportamento.

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O professor de geografia conta que as meninas que viajavam até Friburgo, próximo à cidade onde moram, exclusivamente para fazer compras, passaram a querer guardar dinheiro para projetos maiores no final do ano, e agora esperam pelas promoções de fim de coleção, para economizar. Isso é fruto dos ensinamentos recebidos nas aulas de educação financeira, que fazem parte do programa piloto desenvolvido pelo grupo Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), uma iniciativa do Banco Mundial (Bird) em conjunto com BM&FBovespa, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Banco Central, entre outras instituições e ministérios.

O programa está levando para dentro da escola o ensinamento de finanças básicas, pela primeira vez no mundo, segundo dados do Bird. Os professores receberam material didático, além de treinamento via internet, para serem capazes de mostrar a adolescentes a importância de se poupar, de estudar as taxas de juros e de tomar crédito compatível com a renda. O próprio professor deixou de comprar um carro ao perceber, com as aulas, que pagaria tanto de juros no financiamento de longo prazo que valia mais a pena esperar para juntar um montante maior para dar de entrada.

Com as aulas, o indicador de alfabetização financeira subiu quatro pontos percentuais, de acordo com pesquisa realizada pelo Bird. Os alunos que assistiram às aulas tiveram nota 60,4 em uma escala de zero a 100, superior àqueles que não participaram do programa, com nota média de 56,1. Antes das aulas, não havia diferença de desempenho entre os dois grupos.

Como um dos focos principais do programa de educação financeira foi a necessidade de manter uma poupança, os hábitos dos jovens acabaram sendo modificados. Houve um crescimento de seis pontos percentuais entre aqueles que disseram guardar algum dinheiro. Entre os que participaram das aulas, 50% têm comportamento de poupar, enquanto 44% apresentam as mesmas características no grupo que não recebeu educação financeira na escola.

O diretor do Banco Mundial para o Brasil, Makhtar Diop, disse que, com a estabilidade financeira por que passa o país, o principal desafio de longo prazo é a necessidade de aumentar o nível de poupança interna. Ele se encontrou na semana passada com o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. "Tombini disse que, para conter a inflação, aumentar a poupança é muito importante. A pressão sobre o balanço de pagamentos é muito grande", afirmou o diretor do Bird.

A presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana, afirmou que o objetivo das aulas é permitir que os jovens possam aprender a planejar seu futuro, sem que seja levado por modas ou necessidades criadas artificialmente.

O programa de educação financeira ainda será ampliado, para se tornar nacional, e deve incluir as famílias dos alunos. De acordo com Maria Helena, vai ser implementado "como uma decisão de Estado", a partir da criação do Comitê Nacional de Educação Financeira. (Valor)



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