Declarações de Norte a Sul da Europa comemoraram o acordo, em princípio, firmado entre o governo da Grécia e a troica negociadora (Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu).
Para garantir a liberação de um pacote de alívio (nada menos que 130 bilhões de euros), o povo grego terá de carregar um enorme saco de maldades, cujo conteúdo vai sendo revelado aos poucos.
Do que já se sabe, haverá redução de 20% no salário mínimo, de 751 euros antes dos impostos; corte de 20% nas aposentadorias acima de mil euros; demissão de 15 mil servidores públicos submetidos ao regime temporário de trabalho; cortes salariais em estatais; privatização de empresas públicas; fim de empregos vitalícios e transmitidos por herança (caminhoneiros, taxistas, notários, tabeliães, etc.).
Por ora, as perspectivas não são lá muito animadoras. Além da redução do PIB, de ao menos 5,2% em 2011, está prevista nova retração, de 5,0% neste ano. O desemprego já recorde, de 20,1% (dado de novembro), tende a continuar subindo.
O objetivo dessas pancadas é não só recuperar finanças públicas, mas, sobretudo, torná-las sustentáveis a longo prazo, com redução do endividamento.
Apesar dos protestos e do enorme esperneio promovido por sindicalistas e políticos e de inúmeras advertências de economistas de renome sobre o grande o risco de que o remédio mate o doente em vez de curá-lo, ao governo da Grécia não sobrou outra opção. Era aceitar as condições ou largar definitivamente o euro. Como a saída do bloco teria consequências apavorantes, a decisão foi engolir o cálice da amargura.
Isso não significa que a Grécia cumprirá religiosamente o que está acertado. Foram eles que inventaram o teatro e esta pode ser mais uma peça em cartaz.
É recorrente a capacidade dos gregos de assinar tratados e não cumpri-los. Será espantoso se desta vez for tudo diferente.
Nesse caso, o acordo poderá não passar de novo expediente destinado a fingir concordância para pôr a mão na dinheirama e, assim, ganhar tempo e adiar soluções definitivas. Aparentemente, os gregos contam com a baixa disposição dos dirigentes do euro de expulsá-los da união monetária – o que derrubaria, em dominó, uma fileira de bancos e poderia deflagrar mais uma onda de contágio.
E essa desconfiança generalizada de que a atual disposição dos gregos ao sacrifício não deve ser levada a sério demais foi a principal razão pela qual, depois de espera interminável, os mercados pouco festejaram o que foi largamente saudado por algumas autoridades da Europa como um acordo histórico e alentador.
Ah, sim, os líderes políticos da coalizão governista (social-democratas, conservadores e extrema-direita) liderada pelo primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos, endossaram os termos do acerto, mas, como de outras vezes, pode ser só parte do teatro.
O problema é que, mesmo que a saída para a encalacrada da Grécia esteja próxima, os dirigentes da Europa ainda estão longe de resolver o problema do euro. (Celso Ming - Agência Estado)