segunda-feira, 29 de março de 2010

Expectativa de vida em alta, seguro mais barato

Novo cálculo de sobrevivência do brasileiro deve reduzir custo de apólice em até 30%. Na previdência privada, mais tempo de contribuição
Mais de 11 milhões de pessoas podem passar a pagar menos por um seguro de vida a partir do segundo semestre deste ano, quando as seguradoras lançam no mercado novos produtos baseados na primeira tábua atuarial brasileira - cálculo de expectativa de vida dos clientes de seguro e previdência privada. A tabela mostrou basicamente que os brasileiros vivem mais. E, se vivem mais, tendem a pagar agora menos por um seguro de vida - entre 10% e 30%, dependendo do plano e da faixa etária. Mas terão, por outro lado, que contribuir por um período de um a seis meses maior para a previdência privada, já que receberão o benefício da aposentadoria também por mais tempo.

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Especialistas lembram que as mudanças valem para novos contratos. E sugerem fazer as contas, especialmente para quem pretende cancelar um seguro e contratar outro para se valer de preços menores. Quem tem seguro há mais tempo e tem mais de 50 anos, por exemplo, tende a perder na troca. Também recomendam cautela na escolha do plano de previdência, já que são de longo prazo.
Criada pela UFRJ e lançada no último dia 18, a tábua brasileira estimou uma expectativa de vida de 81,9 anos para homens e de 87,2 anos para mulheres.
Hoje, o setor utiliza uma tabela americana criada em 2000 que prevê expectativa de vida de 80 anos para homens e de 86 anos para mulheres.
Jair Lacerda, presidente da comissão atuarial da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) sugere aos segurados procurarem as empresas para reavaliar contrato e planos.
- Eu acho que as pessoas deveriam considerar fazer um novo plano de seguro de vida.
Se podem ter uma redução, por que vão pagar a mais? Para maioria dos casos essa queda deve acontecer - diz Lacerda, também diretor-executivo da Bradesco Vida e Previdência.
Para parte das seguradoras, preços vão mudar pouco Para Giorgio Antunes, diretor da consultoria Bencorp, a queda pode chegar a 30%. Nos cálculos dele, um homem de 25 anos que contratar um seguro de vida de R$ 300 mil passará a pagar R$ 120 por mês.
- Quem troca o seguro de vida raramente faz bom negócio, a menos que troquem a tábua, como agora. Pode ficar mais barato sim, mas depende da seguradora - diz Antunes.
Produtos com base nessa nova expectativa de vida devem ser lançados entre junho e julho deste ano. O processo não é mais rápido porque os seguros precisam ser submetidos à aprovação da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o que pode levar 60 dias.
Mas parte das grandes seguradoras do mercado começa a indicar que não pretende reduzir muito o preço. Informam que já trabalham com dados atualizados, gerados na experiência com seus clientes.
O uso da primeira tábua brasileira não é obrigatório.
- A diferença entre a nossa tábua e a tábua brasileira é pequena - afirma Renato Russo, vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica.
Mesma avaliação faz Fabio Morita, diretor de Vida e Previdência da Porto Seguro: - Muitas empresas têm seus preços calibrados pela própria experiência. Portanto, não haveria impacto direto de ter uma nova tábua agora. Será necessário, portanto, comparar os produtos de diferentes seguradoras - acredita.
Nos planos de previdência complementar, a maioria das empresas aposta no aumento do prazo de contribuição do consumidor. Mas a SulAmérica defende que os consumidores saem ganhando. Simulação da empresa mostra que uma pessoa de 40 anos que contratar um plano com contribuição de R$ 1 mil e rendimento de 5% ao ano passa a receber R$ 4.289 mensais de aposentadoria, a partir dos 60 anos. Antes, receberia R$ 4.193 por mês.
Na previdência, o melhor é aguardar novos produtos O motivo seria a queda da taxa de administração das seguradoras, atualmente entre 1% e 3% ao ano. Com dados mais precisos do mercado, que substituem cálculos de 2000 do mercado americano, as segurados poderiam fazer provisões menores.
O economista Daniel Albuquerque, de 30 anos, planeja contratar um plano de previdência até o fim deste ano. Ele diz que foi pego de surpresa com a nova tábua brasileira. Mas garante que terá cautela na busca de um plano, no qual precisará contribuir pelas próximas décadas.
- Eu pretendo fazer um plano para os próximos 30 anos. Se a taxa de administração realmente cair, talvez realmente compense esse aumento de prazo - avalia Albuquerque.
Especialista no assunto, Eduardo Bom Angelo, CEO da operação brasileira da consultoria de seguros MDS, sugere aos consumidores aguardarem os novos produtos chegarem ao mercado antes de contratar qualquer plano.
- É melhor aguardar um maior número de seguradoras colocar novo produto na prateleira.
Então, verificar quais estão aderindo ao novo modelo - diz o consultor
ENTENDA O QUE MUDOU
O QUE É UMA TÁBUA ATUARIAL?
São tabelas com as probabilidades de sobrevivência e morte de uma população. São usadas para calcular benefícios de renda e seguro de vida.
No Brasil, a mais usada atualmente é a americana, com base em estatística de 2000 (AT-2000). Quanto menos tempo elas supõem que a população viverá, mais agressivos serão os planos baseados nessa tábua, que pagarão uma renda maior para um dado montante acumulado.
Uma tábua mais conservadora oferece menor benefício, mas é mais condizente com a realidade demográfica
A TÁBUA ATUARIAL BRASILEIRA
A tábua brasileira foi desenvolvida com dados de 2004, 2005 e 2006 fornecidos por 23 seguradoras, que respondem por 95% do mercado brasileiro de vida e previdência complementar. No trabalho, que teve as variantes de coberturas de sobrevivência e mortalidade, foi analisado o histórico de 32 milhões de CPFs, 19 milhões do sexo masculino e 13 milhões do sexo feminino
O QUE MUDOU?
A tabela constatou uma expectativa de vida maior dos brasileiros em relação ao estabelecido na tábua americana. Entre os homens, essa expectativa sobe de 80 anos para 81,9 anos. No caso das mulheres, cresce de 86 para 87,2 anos
COMO FICA
Seguro de vida O custo mensal do seguro pode recuar de 10% a 15%, segundo estimativas da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) para os segurados de meia idade
Previdência privada Como a nova tabela estima uma vida mais longa dos brasileiros, eles também terão que contribuir por mais tempo nos planos de previdência. Segundo a Fenaprevi, precisarão ser pagos de um a seis meses a mais. Para a SulAmérica, o efeito será contrário: em um mesmo tempo de contribuição, haverá pequeno aumento no rendimento
SIMULAÇÃO DE SEGURO DE VIDA
Um pessoa com 25 anos do sexo masculino que contratar um seguro de vida com cobertura de R$ 300 mil pagará R$ 120 mensais pela nova tábua atuarial, 30% a menos que pagaria na tabela atual (R$ 170 mensais)
As tábuas atuariais usadas para seguro de vida (mortalidade) e de previdência privada (sobrevivência) funcionam de maneira semelhante, mas a tábua de sobrevivência superestima em seus cálculos a expectativa de vida dos segurados, de forma a dar margem ao risco de pagar por mais tempo o benefício. (Bruno Villas Bôas - O Globo)

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