segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aposentados. A ociosidade pode ser a causa de doenças

Pesquisa feita na França conclui que a saúde das pessoas melhora quando se aposentam. O estudo avaliou 15 mil trabalhadores e constatou o ganho de até 10 anos na expectativa de vida. No Brasil, o Ministério da Saúde aponta outra realidade. Cerca de 80% dos aposentados (idosos) têm pelo menos um problema de saúde.
Os dados divulgados na “Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa”, publicada pelo Ministério da Saúde em 2006, foram retirados do Censo Demográfico 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles mostram que apesar do índice elevado de doentes entre a população com mais de 60 anos, quando questionados sobre sua saúde, metade (50%) dos idosos a considerou regular; 32% como boa ou ótima e só 22,6% como ruim ou muito ruim.

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O médico Celso Anderson de Souza, que aos 82 anos atende idosos no consultório da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Lages (AAPL), discorda que parar de trabalhar faça bem para a saúde. Segundo ele, isso só ocorre na prática se a atividade é pesada, consome muito esforço ou oferece riscos para saúde. “É de se presumir que quanto mais desgastado esteja o organismo mais disposto está ao surgimento de patologias (doenças), decorrentes da passagem do tempo e do uso mais ou menos intenso dos órgãos”, diz o clínico geral e especialista em ginecologia e obstetrícia.
Para o médico, a própria faixa etária da aposentadoria está associada ao período de aparecimento de problemas como hipertensão, diabetes, neoplasias malignas (cânceres) e artropatias degenerativas (artrose e doenças associadas).
Para o médico, quando o trabalho é prazeroso e traz realização não deixa ninguém doente. “É de se estranhar que essas pessoas venham a se sentir melhores ao parar de trabalhar. A ociosidade não faz bem para ninguém”, observa o médico.
Souza atende em média 15 pacientes por dia no consultório da associação e, por experiência própria, considera nocivo cruzar os braços depois de se aposentar. “Eu costumo dizer o seguinte: diariamente atendo uns mil anos aqui e, se faltar, eu completo”, brinca, o médico ao comparar o ser humano inativo à água parada. “A água parada não cria um limo por baixo? Se estiver correndo não cria o limo. Imagine uma pessoa parada”, diz.
Souza ainda alerta que a pesquisa feita na França não generalizou a população, e sim revelou esse resultado entre pessoas que exerciam trabalhos mais humildes, que seriam os mais agressivos. “É claro que uma pessoa que vai quebrar pedra no Morro Grande vai chegar a uma certa idade com vários problemas. Já a pessoa que não teve tanto desgaste, não”, exemplifica o médico.
É válido lembrar que, de acordo com a cartilha do Ministério da Saúde, a autopercepção da saúde pela pessoa idosa é um importante indicador de risco.
Qualidade de vida
O presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Lages (AAPL), Fulvio Nunes, afirma que a entidade não tem estatísticas sobre a realidade dos aposentados da região, mas alega que a qualidade de vida das pessoas depois que param de trabalhar tem influência direta sobre a saúde delas. “Não temos índice, mas que os problemas de saúde aumentam, aumentam”.
Nunes fala que o número de idosos que recebem atendimento médico na associação dobraria ou até triplicaria se a AALL tivesse condições de manter mais médicos prestando o serviço. “O salário quando se aposenta vai diminuindo e a pessoa fica sem recursos para cuidar da saúde”, avalia.
O presidente da associação diz que especialmente os aposentados da região Sul têm um custo de vida alto se comparado ao de outros Estados brasileiros. “No Nordeste com uma bermuda e camiseta a pessoa está vestida. Aqui no Sul o inverno obriga a ter gastos com vestuário. Quer dizer, o custo de vida aqui é bem maior”.
A aposentada Neuzi Polito, de 65 anos, destaca uma diferença que pode ser fundamental entre a realidade de vida de aposentados na França e no Brasil: como funciona o atendimento público de saúde nos dois países. “A assistência médica deles é melhor que a daqui, onde a gente tem que esperar não sei quantos meses para uma consulta”.
Outra aposentada, Julieta da Silva, de 79 anos, acredita que os idosos estão se cuidando mais e que isso pode sim reduzir problemas de saúde.
A Pesquisa francesa
O estudo foi publicado na revista científica “Lancet”
O levantamento foi realizado por pesquisadores da Universidade de Estocolmo e da University College de Londres.
• O grupo estudado: Cerca de 15 mil funcionários das empresas estatais de gás e eletricidade da França.
• Metodologia aplicada: Os pesquisadores pediram aos empregados que avaliassem suas próprias condições de saúde sete anos antes da aposentadoria e sete anos depois.
• Os resultados: O índice de entrevistados que afirmou não estar bem de saúde caiu de 19%, um ano antes, para 14% um ano depois. As maiores melhorias foram sentidas entre pessoas provenientes de ambientes de trabalho mais humildes. Entre os que ganhavam mais e tinham empregos mais satisfatórios não foram percebidas grandes mudanças.
• Na comparação: A análise dos pesquisadores é de que a diferença entre os problemas sentidos antes de parar de trabalhar e depois da aposentadoria representa um ganho em saúde entre oito e dez anos de vida. O grupo que estudou o comportamento dos trabalhadores também notou que os aposentados passaram a se sentir mais jovens e saudáveis pouco depois de pararem de trabalhar. (Fabiana Nonjah - Correio Lageado)

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