segunda-feira, 15 de junho de 2009

Poucos fundos agora superam a poupança

Com nova Selic, só aplicações em DI que cobram no varejo taxa de administração inferior a 1,25% têm rendimento maior que caderneta
Consumidor deve negociar com o gerente do banco adesão a fundos de investimento com taxas menores, dizem analistas
Com a nova redução nos juros, os tradicionais fundos DI com taxas de administração de mais 1,25% já rendem menos do que a poupança, em qualquer dos cenários de tributação hoje em vigor, segundo simulação da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Nas simulações feitas a pedido da Folha, os fundos DI com taxa de administração de 1,25% tinham rendimento líquido de 6,8% no ano, considerando uma alíquota de IR de 15% para saques acima de dois anos. No caso de retiradas de menos de seis meses, que têm IR de 22,5%, esse retorno cai para 6,2% ao ano. No último dia 8, a poupança rendeu 6,95%.
O problema é que quase nenhum dos grandes bancos trabalham no varejo tradicional com taxas de administração de menos de 1,5% para fundos DI, segundo consultores de finanças pessoais. Taxas compatíveis são oferecidas para clientes de alta renda, para aplicações acima de R$ 50 mil.

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"O varejo não tem essas taxas. Para o investidor com menos de R$ 50 mil, a poupança ficou imbatível. A única ressalva em favor dos fundos é que a poupança não tem liquidez diária. Se o poupador retira um dia antes do aniversário, perde o rendimento inteiro de um mês. Para o aplicador que não precisa de liquidez diária, a poupança é a melhor opção", disse a consultora de investimentos Marcia Dessen, da BankRisk.
Para Liao Yu Chieh, professor de finanças do Insper, o investidor que tem taxa acima de 1,25% não deve sacar o dinheiro do fundo e levá-lo para a poupança sem verificar o efeito da tributação. Ele lembra que o governo prometeu reduzir a tributação dos fundos e que a questão ficou ainda mais urgente com a redução dos juros para 9,25%. "Não vejo uma grande migração dos fundos para a poupança. Vejo as novas aplicações irem para a poupança. Dependendo da faixa de tributação, pode não justificar. E o governo ainda pode diminuir a tributação dos fundos", disse. Para 2010, o governo pretende tributar aplicações de mais de R$ 50 mil na poupança.
Segundo Marcia Dessen, o investidor com taxa alta deve procurar o gerente do banco e negociar a adesão em fundos com custos menores, oferecidos para clientes de maior renda, ou levar o dinheiro para gestores independentes, que tenham taxas menores.
"Opção tem, mas dá trabalho. Tem de pesquisar e tomar decisão. O consumidor faz isso quando compra carro, roupa e celular. Por que não faz quando contrata um serviço financeiro? Não faz porque o custo está embutido, não é explícito e é pouco transparente. O gerente não fala, o cliente não pergunta. O consumidor precisa fazer mais perguntas e dizer: "Esse valor eu não pago". Enquanto os bancos puderem, não vão ceder nas taxas de administração", disse Marcia Dessen.
Com a concorrência da poupança, bancos como Bradesco diminuíram o valor inicial de aplicação para fundos com taxas de administração mais competitivas, que só eram oferecidos a grandes aplicadores.
Segundo Eduardo Paiva, professor da Fipecafi, os investidores terão de assumir mais risco e diversificar as aplicações para elevarem seus rendimentos. Paiva vê o governo pressionando os gestores de fundos para reduzir as taxas de administração. "As pessoas estão muito acostumadas a ganhar bastante dinheiro com o governo. Isso tende a acabar. Algum risco você terá de correr. Senão, fica na poupança. E os fundos terão de reduzir um pouco essas taxas [de administração]", disse. (TONI SCIARRETTA - Folha de S.Paulo-11.06)

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