A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estuda junto com a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) alterar algumas regras para os fundos que aplicam em ativos de baixa liquidez.
O objetivo, segundo o gerente de acompanhamento de fundos da CVM, Luiz Américo de Mendonça Ramos, é garantir que esses fundos tenham liquidez suficiente para honrar os pedidos de resgate.
No ano passado, alguns gestores que aplicavam em ativos de baixa liquidez foram obrigados a vendê-los com grande desconto no mercado para fazer frente aos pedidos de resgate, o que acabou impactando o retorno dos fundos. "O ideal é que os gestores montem uma carteira com aplicações compatíveis com o prazo de carência para resgate", afirma Ramos.
Para ele, a alteração no prazo de carência, fixando um período maior para pagamento de resgates, não é um processo fácil, uma vez que os investidores brasileiros, ao contrário do padrão no exterior, estão acostumados com liquidez diária nos fundos de investimento. "Se um gestor adota um prazo de carência de 180 dias, pode ter dificuldade em vender o produto."
Rafael Rodrigues, diretor de renda variável da gestora Rio Bravo destaca que o perfil do investidor nesse caso é fundamental, uma vez que muitos desses ativos são de longo prazo. O fundo Rio Bravo Fundamental, que segue a filosofia de valor e ativismo, é voltado para investidores qualificados e adota prazo de carência para resgate de 60 dias. "Como nossos investimentos são de longo prazo, em média de três a cinco anos de aplicação em papéis de uma empresa, os investidores também devem estar de acordo com esse perfil, para não haver pedidos de resgate em momentos inadequados. Além disso, é importante adequar os ativos e passivos dentro da carteira", diz.
Outra regra adotada pela gestora é limitar posições relevantes de um único cotista dentro do fundo. "Em casos de captação relevante de um único cotista, como uma fundação, preferimos abrir um fundo exclusivo, para não colocar em risco o patrimônio dos demais cotista com eventual saída desse investidor do fundo", afirma Rodrigues.
O fundo da Rio Bravo procura mesclar o investimento em empresas com menor valor de mercado, smalll e mid caps, com ativos de maior liquidez, papéis mais líquidos como Itaú e Unibanco. Ao todo, o fundo soma 12 empresas em carteira, com patrimônio líquido de R$ 190 milhões.
O problema é mais grave para a aplicação em alguns papéis de crédito privado, que não têm liquidez no mercado secundário, como Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), que obrigam o gestor a carregá-las até o final do vencimento.
Visando manter a liquidez, o fundo Polo Crédito Privado aloca metade de sua carteira em papéis mais líquidos. O fundo busca obter retorno por meio da gestão de um portfólio diversificado de títulos de dívida privada de empresas brasileiras como debêntures, CCBs e notas promissórias, além de produtos estruturados como cotas de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e derivativos de crédito, renda fixa em bolsa e Certificado de Depósito Bancário (CDBs). "Procuramos investir em CDBs de primeira linha e ter uma aplicação pulverizada em CCBs", diz Dara Chapman, responsável pela área de relações com investidores da Polo Capital Management. Hoje o fundo tem uma exposição de 30% da carteira em CCBs e 15% em títulos de dívida de grandes empresas. Ramos, da CVM, afirma, porém, que não há necessidade de limitar a exposição nos ativos. "Não queremos amarrar a indústria e impedir o aparecimento de produtos interessantes."
O fundo da Polo Capital é voltado para investidores superqualificados, com potencial de investimento acima de R$ 1 milhão, com prazo de carência para resgate de 90 dias e cobrança de taxa de 20% para pagamentos de resgates antecipados. (Gazeta Mercantil)
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